Pronto. Era só isto. ahahahahahah
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I’m not a winter person
Custa-me aceitar o fim do Verão. Desses dias longos cheios de luz que me tornam numa pessoa mais optimista e bem disposta. Dos fins de tarde na esplanada a comer moluscos, a rir e a deitar conversa fora. Nem a terapia de choque de uma meteorologia holandesa me imunizou a esta aversão. Custa-me muito a falta de luz, o vento e a chuva. Os dias a escurecerem mais cedo. As calças salpicadas pela lama. O simples largar da cama pela manhã, quando o frio e o sono gritam desesperados comigo, teimando em submeter o meu corpo à preguiça. Custa-me ter de cobrir os pés com botas quando eu sei que o que eles adoram é sandálias e havaianas. Custa-me ter de lidar com o meu péssimo humor, apesar de reconhecer o responsável. Custa-me ter sempre as mãos e os pés gelados ainda que a temperatura dentro de casa esteja nuns amenos 20º. Custa-me torrar a paciência numa fila de trânsito que não anda nem desanda, apenas porque caíram uns míseros pingos. Custam-me as dores na ossada e nos músculos tensos que se ressentem do estupor do frio. Custa-me voltar às mantas, aos lençóis de flanela, às pantufas e aos edredões. Custa-me inventar desculpas a mim própria para não socializar, porque estou a bater o dente e não me apetece sair de casa. Custa-me não sentir a mesma destreza mental. Custa-me ser tão dependente da sazonalidade da vida ao ponto de precisar de uma preparação mental e física para a estação que se avizinha. Custa-me enchouriçar-me com quilos de roupa em camadas, tipo cebola, e sentir frio na mesma. Custa-me guardar os trapos de cores alegres e voltar aos monocromáticos e, nesta altura, entro sempre em contagem decrescente (qual irmão Metralha a ver o sol nascer quadrado) riscando o calendário até avistar o dia 20 de Março.
Eu só quero ser uma ursa (pode ser a Teresa que até é fofinha) e hibernar até aí, quê?… meados de Maio de 2010. Pode ser?
I’m not a TV addicted
Em dois meses e meio de Portugal liguei três vezes a minha televisão. Os cinco primeiros minutos de noticiário chegam bem para me recordar porque até me esqueço que tenho este inútil electrodoméstico em casa. Aqui, na Holanda ou no Japão.
Segunda de Emoções
Depois de uma tarde inteirinha passada no IPO fico com a certeza de que há gente que deveria fazer uma breve visita à sala de quimioterapia para ver se entende, de uma vez por todas, que afinal não tem problemas na vida. Que o não saber o que fazer para o jantar ou a unha do pé encravada são apenas meros pormenores diante do que ali se vê.
Esta maneira muito portuguesa de ser
Aproveitando um comentário do meu caríssimo Miguel, uma pequena resposta sob a forma de post. Não vou referir o óbvio: que sou dotada de uma maneira de ser marcada por evidentes características lusas, muitas delas negativas. Ainda assim, não nego a minha origem, antes exibo-a com orgulho.
Sou britânica na pontualidade e holandesa na organização (por exemplo, a compra dos presentes do próximo Natal está concluída desde o mês passado, o que acontece desde que gozo do meu próprio poder de compra). Nunca me irão ver contribuir para o entupimento das urgências de um hospital a menos que seja (que o diabo seja cego, surdo e paralítico) acometida por um qualquer mal que me provoque dores para além de insuportáveis, daquelas de bradar aos céus; assim como não me encontrarão, enquanto emigras, no meu próprio país, a falar outra língua, que não seja a minha, com os meus conterrâneos. Por outro lado, facilmente me podem ver a ir atrás e à frente as vezes necessárias para estacionar, com precisão milimétrica, o carro dentro das duas linhas que se devem usar para o efeito.
Não sou um poço de virtudes, sou uma mulher imperfeita, com defeitos que nunca mais acabam, empenhada, não em mudar o Mundo, que não sou nenhuma lírica, mas tão somente em empreender a hercúlea e infindável tarefa diária de limar as robustas arestas da minha personalidade, busca esta que, acredito, representa um passo significativo para me tornar num ser humano melhor. E mais havia para escrever, mas a indolência, a disponibilidade e a canícula (à qual só agora dou verdadeiro valor) estão a empurrar-me para o contemplar do horizonte, de livrinho em riste e papinho para o ar.
Até o Arrumadinho fechou?! Bolas!!!
Vinha aqui toda entusiasmada, aos saltinhos, falar-vos da delícia que têm sido as minhas férias, partilhar a alegria que foi desfrutar de uns óptimos dias na muy hermosa Barcelona e da não menos bela cidade das luzes onde, entre muitos outros momentos de plena felicidade, tive o enorme privilégio de dançar e cantar, que nem uma esganiçada, ao som da melhor banda do Mundo, mas este admirável universo da blogosfera não pára de me surpreender, a ponto de ficar boquiaberta com tamanho desequilíbrio das algumas mentes que o povoam. Gente macabra que inferniza, de várias maneiras, a vida de pessoas que gosto de ler, as quais nada mais fazem senão escrever o que lhes vai na alma. Fico incrédula. Por momentos não acredito ser possível. Mas é. E, honestamente, sinto-me prostrada, sem vontade alguma de continuar a fazer parte desta vida virtual, que muitas vezes consegue ser podre, em que felizmente muitos dos que cá andam, escrevem apenas por puro gozo, por carolice, sem outra intenção que não a de ter um momento só seu, de mera descompressão e de troca de ideias, de partilha, de discussões salutares, sem qualquer pretensão senão a de ter os seus próprios pensamentos estruturados em forma de post e a receber quem aparecer por bem e com vontade de acrescentar algo de positivo ao ponto de vista exposto. Mas aqui, como na vida real, há seres humanos. E estes, bem sabemos, por detrás de um rosto encapotado, podem ser capazes de tudo. Tão cruéis quanto medíocres.
Por essas razões e mais algumas, que de momento não estou com grande vontade de explanar, é possível que as férias continuem a estender-se também ao Socas. De qualquer modo, podem continuar a contar com a minha presença nas vossas ‘casas’, nas quais sempre me senti mais do que bem recebida e onde passo sempre que possível, ainda que nem de todas as vezes me faça notar.
O Mundo ao Contrário
Mudanças precisam-se. A começar por aqui.
O primeiro passo está dado. Faltam os outros.
Mudar é evoluir. É crescer. É tentar ser mais e melhor.
Mudar é investir muito de nós a entender este mundo ao contrário.
Para ti, amiga
Tinhas aulas de acordeão, mas mal te aguentavas com tão desajeitado objecto ao colo, muito por conta da tenra idade e da estrutura delgada de que sempre gozaste. Repetias, com engenho, melodias que ressoavam pelo pátio do prédio, apesar de me parecer que era contrariada pelos teus pais que te vias a braços com infindáveis e indecifráveis pautas de música. Foi há quase trinta anos, bolas, estamos velhas. Olho para trás sem a plena memória de tudo o que passámos juntas. Apenas excertos me ocorrem. As fotografias, religiosamente guardadas, não nos deixam esquecer, nem apagar o quanto as nossas vidas atravessaram paralelas as várias etapas desse sinuoso percurso. Foram os amores, os muitos desamores, as frustrações, a escola, as borgas, os acampamentos, as noitadas, as passagens de ano no Algarve, ao som da loucura da Locomia, o Seagull e aquela varanda tão única sobre o mar, as jantaradas bem regadas, os primeiros bafos, nos cigarros, que tu nunca soubeste dar e que, por isso, ríamos que nem perdidas pelas nossas figuras tão patéticas, próprias da adolescência despreocupada que vivíamos. Começámos a sair à noite, contentes e eufóricas, com 15 anos e, apesar de termos a meia-noite como hora marcada para o regresso, achávamos o máximo porque nos sentíamos umas grandes mulheres, cheias de autonomia. Sempre tiveste um rosto perfeito, de fazer inveja a uma miss universo e, por isso, achavas tanta piada aos concursos de beleza (nos quais marcavas a tua divertida presença) quanto ao facto de seres alvo, muitas vezes, de ciúmes por parte de namoradas inseguras. Foste a grávida mais bonita que já vi até hoje. E o que rimos no dia do teu casamento quando linda, mas saudosa das nossas inocentes criancices, recordaste a eternidade com que, muito medricas, demorámos a picar os indicadores, com um alfinete, de modo a selarmos um pacto de sangue, redigido por nós próprias, no qual jurávamos assustadas que continuaríamos amigas, mesmo após a iminente transição geográfica, quais drama queens dos anos 80. E o raspanete que a tua mãe te deu quando um dia chega a casa e percebe que tem o cortinado da cozinha rasgado pelas clandestinas espreitadelas à minha platónica paixão, o vizinho giro do 3.º andar, que nunca me ligou nenhuma, nem sequer notava que existíamos, pois nós não éramos mais que umas pirralhas e ele tinha o dobro da nossa idade.
Tens em casa uma autêntica cópia de ti, um retrato físico fiel do que foste há 30 anos atrás e, só isso, vale por tudo neste Mundo. A tua filha vai saber, mesmo na tua presença e contra a tua vontade, como te prometi em tom de provocação quando ela nasceu, o quanto juntas nos divertimos e chorámos. Há-de viver todas as nossas aventuras, mesmo aquelas que não queres que eu lhe conte porque, insistes, são um mau exemplo.
Quando aos 18 anos o destino te fez crescer implacavelmente ao roubar-te de forma trágica o teu grande amor e eu te agarrei com todas as minhas forças e te acordei do transe das noites mal dormidas, angustiadas pelo desgosto e pela agonia ampliada do que é ter consciência das consequências de uma perda tão fatal, estavas longe de imaginar que vinte anos passados a vida poderia ser ainda mais cruel.
Passaram 4 dias e ainda digiro amargamente o choque das palavras que te depositaram como corolário de duas inesperadas semanas de hospital. Agora, minha querida, nada mais espero de ti que a firmeza e a determinação (já amplamente mostradas noutras tantas provações) necessárias para derrotares, com todas as tuas forças, os genes envolvidos na formação desse assassino da modernidade que te está a consumir as forças e a esperança.
Naquela noite de Agosto actualizámos as nossas vidas carentes de um contacto mais assíduo, no único jantar de despedida que tu e mais duas amigas nossas de sempre insistiram em fazer, antes de eu sair daí. No caminho para o carro, eu dei-te o braço e pedi-te para me visitares muito. Que sim. Que virias sozinha, sem marido nem filha, e que aqui, num cenário diferente, cheio de novidade, reviveríamos os bons tempos em que o único objectivo de vida era simplesmente divertirmo-nos. Estou à tua espera.
Também estás muito no meu coração, minha querida.
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No médico
Undutchable Girl (UG): Doutor, por curiosidade: porque é que uma enorme percentagem de grávidas, aqui na Holanda, faz os seus partos em casa?
Médico (M): Porque há menos probabilidades de contraírem infecções e estão muito mais confortáveis no seu habitat natural.
UG: Então e se durante o trabalho de parto surgirem complicações? E se precisarem, a mãe e/ou o bebé, de equipamento específico com urgência?
M: Meto-os no meu carro e eu próprio os levo ao hospital.
(o hospital – mais próximo – de que estamos a falar fica a 9km)
UG: Então e é verdade que muito raramente administram epidural?
M: Sim, claro. A epidural é perigosa, há sempre o risco de a grávida ficar paralítica da cintura para baixo.
UG: Pois, eu sei, mas em Portugal as mães assinam um termo de responsabilidade. Cabe ao médico ou à grávida decidir a aplicação da epidural?
M: Cabe ao médico, apesar de agora também já a grávida comece a poder ter alguma opinião. Mas as avós e as mães aguentaram as dores de parto e muitas delas tiveram imensos filhos.
Pois, meus amigos, é assim desta maneira tão peculiar que os médicos holandeses encaram este assunto e a saúde em geral. E não lhes falem em antibióticos, nem em qualquer outra prescrição de fármacos, que os medicamentos são apenas para usar em caso de extremíssima necessidade, tipo cinco segundos antes de quinarmos que é para entrarmos no túnel em pleno estado de hipnose. É a primazia da cura em detrimento do alívio da dor física, que o ser humano nasceu foi para sofrer. Neste país, a indústria farmacêutica não consegue, decerto, fazer crescer desmesuradamente o seu negócio. Este senhor diz que tem alguns pacientes espanhóis que quando não se aguentam nas canetas lhes pede antibióticos, mas que como receitar químicos não é, de todo, um hábito inerente à medicina holandesa, vão ser drogados para o raio que vos parta seus panisgas do Sul da Europa que não conseguem aguentar airosamente uma ciática, uma contracçãozita, uma cólica renal ou até mesmo uma fracturinha exposta. Vão ser queixinhas para o vosso país, sim?
Drogas leves? Legalizadas.
Morfinazinha para o alívio das dores? Não sejam piegas!